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Luta e Cultura

Aula 10 (02/06)

 

A aula do dia 02/6 foi composta de quatro momentos:

 

MOMENTO 1:

O professor Marcos fez um breve comentário sobre os registros de esporte, elaborados pela turma, indagando o motivo de a maioria dos grupos ter escolhido o texto do Melani como base para a realização do portfólio de esporte. Depois de uma conversa sobre a questão, o professou observou o quanto é interessante ter o retorno da turma para entender de que maneira os alunos estão apreendendo.

MOMENTO 2:

Neste momento da aula, o professor retomou alguns elementos trabalhados na aula de vivência de ginástica, apresentando um vídeo de uma unidade de ensino de experimentação em que ele mesmo dava uma aula para o 1º ano na Escola de Aplicação.

Discutimos o quanto é importante fazer intervenções mais qualificadas e dependendo da intenção, utilizar materiais diversificados com o intuito de enriquecer o repertório das crianças e proporcionar instrumentos para que elas consigam ressignificar os conteúdos aprendidos.

MOMENTO 3:

O professor Marcos iniciou o tema das lutas perguntando sobre experiências possíveis que o grupo teve com as lutas. Alguns alunos levantaram a mão e contaram qual luta foi praticada.

A partir disso, o professor explicou que luta é uma prática corporal realizada por duas ou mais pessoas e que tem como objetivo tocar, imobilizar ou desequilibrar o adversário. Disse também, que é difícil encontrar um texto que distancie a paixão do autor praticante, do significado que a luta possui.

Diferentes imagens de luta foram apresentadas, inclusive algumas que a sala não identificava como luta, mas sim como brincadeira, tais como: briga de galo, braço de ferro, luta de dedo, “ai” e cabo de guerra. Marcos ressaltou que quando você faz uma leitura na condição de espectador, você atribui significados acessados em algum momento da vida, como é o caso também da pipa, que foi criada com finalidade bélica e hoje em dia se tornou uma brincadeira.

A partir de algumas imagens, foi interessante notar que as lutas foram mudando com o passar do tempo. Antigamente existiam muitos duelos que levavam à morte, já nos dias de hoje as lutas possuem significados diferentes, como para tirar o estresse, com finalidade estética ou como prática esportiva.

O professor Marcos mostrou algumas imagens de artes marciais, mostrando que algumas lutas, como no caso do Kung Fu, são envolvidas, na sua criação, por alguns fundamentos de cunho pacífico e filosófico, havendo uma preocupação com a condição física e a meditação, principalmente porque em suas gêneses o objetivo era o de vencer guerras. Segundo Marcos Neira: “Em linhas gerais, as raízes de qualquer luta estão enterradas no contexto social da época. Conhecer sua origem e história é uma maneira de acessar os significados que lhe foram atribuídos pelos seus criadores”. (NEIRA, 2014, p. 97).

Com isso, o professor passou a fazer comentários individuais das lutas e de modalidades de combate que não possuem sentido de plasticidade ou beleza estética, usando como exemplo o Judô, em que seu criador desenvolveu algumas técnicas corporais para aplicar a força do adversário contra ele próprio, diferentemente das lutas ocidentais, que utilizam sessões de treinamento e organização de movimentos. Outras lutas como o boxe, o tae kwon do e a capoeira, também foram citadas.    

  

Começamos a discutir então, sobre a influência que a indústria cinematográfica e a de jogos eletrônicos têm sobre as lutas, fazendo com que várias gerações fossem influenciadas por uma concepção utópica, que não condiz com os valores e as concepções do que realmente são as lutas. Alguns filmes foram citados como: O lutador, Menina de ouro, O último samurai, Tartarugas Ninjas, entre outros.

A discussão sobre os filmes foi interessante, pois debatemos sobre vários pontos, entre eles: a disseminação do significado do esporte como algo agressivo, a questão da mulher, que é excluída do mundo esportivo por ser considerada fraca/frágil perante os homens e a ideia romantizada de que as pessoas que lutam possuem poderes especiais e são invencíveis. Segundo Neira:

 

“O contato com as representações veiculadas pela indústria cultural exerce alguma influência nas concepções que as crianças constroem sobre o tema. Não é raro atribuir-se aos lutadores poderes excepcionais ou confundi-los com indivíduos agressivos e violentos. Também é comum conceber as lutas como práticas exclusivas a setores restritos da sociedade, devido ao ambiente de segredo e mistério propositadamente criado ao seu redor. O cinema contribuiu para isso com a alusão a golpes mortais, quase mágicos, e ao envolvimento das lutas com doses variáveis de misticismo”. (NEIRA, 2014, p. 91)

 

Após este momento de discussão, o professor Marcos começou a falar da gênese e da constituição histórica das lutas. Na antiguidade, os gregos lutavam o pancrácio - que deu origem a outras lutas de agarro, como a Greco romana, a luta livre, o huka-huka, etc-, nesta luta valia tudo, menos enfiar os dedos nos olhos, morder e atacar as partes íntimas. Ela tinha como objetivo a morte do oponente. Neste caso, é importante salientar que a morte em combate era vista como uma honra para os cidadãos da época.

Outra modalidade que foi comentada durante a aula foi a dos Samurais, homens que cultivavam a honra e a coragem e se orientavam por um código rígido. Esta luta também era praticada com espadas e era vista como uma técnica poderosa. Por isso, os samurais prestavam serviços de segurança de mercadorias e pessoas poderosas.

O professor Marcos trouxe a questão do uso das armas como algo que sofreu diversas ressignificações ao longo da história. Primeiramente se usavam espadas e ocorriam demonstrações públicas, mas com a chegada da pólvora, a espada perde o sentido e a arma de fogo adquiriu significados diferentes de acordo com o grupo social.

Na idade média, a luta fazia parte dos ensinamentos, como no caso das justas, que também eram confrontos, em que os cavaleiros lutavam para matar o oponente. Já nos dias atuais, algumas lutas possuem estilos e técnicas diferentes, mas a origem é a mesma ou é desconhecida. Nestes casos, houve uma ressignificação, como na luta marajoara e na capoeira. De acordo com Neira:

“Tanta variedade dificulta qualquer tentativa de homogeneizar as lutas e os significados que lhes são atribuídos. É simplesmente impossível hierarquizá-las ou qualificá-las. Cada qual, enquanto artefato cultural, transporta os signos que representam o grupo social que a criou e todos aqueles que dela possam ter se apropriado. Uma luta é um texto passível de leitura, significação e produção. A gestualidade, as vestimentas os rituais e os instrumentos que lhe dão especificidade são, na verdade, as chaves para compreender as visões de mundo partilhadas pelos seus representantes”. (NEIRA, 2014, p.100).

 

 

MOMENTO 4:

 

Neste momento o professor Marcos começou a tematizar as lutas dentro e fora das escolas. Para isso, assistimos alguns vídeos de experiências pedagógicas com a luta olímpica e o Kung Fu. Depois disso, discutimos que algumas lutas, como as de agarro, podem ser trabalhadas na escola com o seu formato, proporcionando experiências corporais que proporcionam movimentos que ocorrem nos grupos sociais.

Durante a conversa, uma aluna trouxe a questão de gênero, pois percebeu, ao assistir um dos vídeos, que as meninas eram coadjuvantes do processo, gerando um debate sobre as práticas corporais que são atravessadas por marcadores sociais e que precisam ser trabalhadas, nas escolas, com intervenções qualificadas, na intenção de quebrar com muitos preconceitos que existem em nossa sociedade.

Ao final da aula, fizemos uma análise com base na perspectiva cultural, para identificar como foram estruturadas as atividades de ensino no vídeo do Kong Fu:

 

- Mapeamento: escolher a tematização

- Vivências: práticas corporais que propagavam uma elaboração de gestos a partir da gestualidade ressignificada.

- Aprofundamento: Leitura de um texto para o melhor entendimento sobre o sentido da luta, que envolvia técnicas e estilos.

- Vivências: A partir da pesquisa, as crianças começaram a elaborar seus próprios Katis.

- Ampliação: Os alunos pesquisaram vídeos de campeonatos de Kung Fu e descobriram que os praticantes também usavam armas.

- Vivência: As crianças construíram as armas, enriquecendo seu repertório de movimento com a construção de novos Katis com as armas.

- Visita à academia: O professor levou as crianças para conhecerem uma academia de luta, em que as crianças assistiram uma apresentação e puderam se aproximar de homens e mulheres que praticavam o Kung Fu.

 

A partir desse levantamento, observamos a importância da problematização e da intencionalidade do professor que, com a organização das referências, propôs que os alunos trabalhassem e se apropriassem do Kung Fu através de vários ângulos. Sendo esta, a ideia do currículo cultural.

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

 

NEIRA, M. G. Lutas. In: Práticas corporais: brincadeiras, danças, lutas, esportes e ginásticas. São Paulo: Melhoramentos, 2014. p. 90-100.

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Aula 11 (09/06): Vivências corporais – Salão Nobre da Escola de Aplicação.

 

A aula do dia 09 foi constituída por 5 momentos.

 

MOMENTO 1: Retomada aula anterior

Com o grupo todo em roda, o professor Marcos iniciou retomando algumas discussões realizadas na aula da semana anterior e relembrando que apesar de existirem diversas lutas com trajetórias muito peculiares, elas possuem características em comum que as identificam como tal. Segundo o autor Marcos Neira:

A luta é uma prática corporal realizada entre duas ou mais pessoas que empregam técnicas específicas para imobilizar, desequilibrar ou atingir o oponente. Trata-se de uma forma de combate na qual os opositores atuam simultaneamente. (NEIRA, 2014, p. 90)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Após essa retomada nos foi apresentado os convidados da aula e praticantes de algumas modalidades de lutas: O Kung Fu, o Taekwondo e a Capoeira. Os praticantes nos ajudaram a realizar vivências dessas três modalidades, ampliando o que trabalhamos na aula anterior e possibilitando uma melhor compreensão das lutas a partir do que foi vivenciado. As vivências e a conversa com cada um deles nos aproximou de algumas representações dessa prática corporal, ampliando a diversidade de informações e leituras já realizadas (NEIRA, 2014).

Iniciamos as vivências da aula com algumas atividades de luta. Uma das lutas é chamada de “ai”, em que os participantes deveriam bater na mão do oponente mais rápido que pudessem, sendo que o oponente deveria tentar escapar. Na luta, outra os participantes deram as mãos uns aos outros em duplas, tentando derrubar o oponente o desequilibrando.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

MOMENTO 2: Vivência Kung Fu

A vivência do Kung Fu foi conduzida primeiramente pelo professor Alexandre, formado em Educação Física, professor do Kung Fu estilo Choi Lay Fut, e dois de seus alunos. Antes de partirmos para a vivência,  nos contou um pouco sobre a origem da luta, sobre sua tradição, suas raízes Chinesas e filosofia baseada no respeito e na força interna no lutador, que precisa mobilizar corpo, mente e espírito para ser um bom praticante. Comentou que atualmente existem mais de 360 estilos de Kung Fu.

Fizemos a vivência de algumas posições do Kung Fu como o “cavalo”, “gato”, “dilma”, “duplo” e “arco e flecha” e conhecemos os seus nomes chineses. Além disso, aprendemos alguns Katis que o professor Alexandre definiu como “golpes em um adversário imaginário”, nos quais usamos socos e chutes criando uma sequência ordenada de movimentos de ataque e de defesa.

Em um segundo momento, tivemos a presença da professora e também praticante de Kung Fu Aline, que veio para nos apresentar mais um estilo da luta: o Garra de Águia. A professora nos contou que esse estilo é inspirado nos movimentos da águia em ataque contra suas presas e que um grande precursor da modalidade foi general do exército chinês e treinava seus oficiais usando golpes desse estilo.

Novamente fizemos a vivência de algumas posições, muitas delas semelhantes a do estilo do professor Alexandre, só se diferenciando pelo nome. Aprendemos também alguns Katis e movimentos que representavam o céu e a terra.

 

 

 

MOMENTO 3: Vivência Taekwondo

Para nos ajudar a vivenciar o Taekwondo, tivemos a presença do professor Jorge. Formado em Educação Física, professor atuante na área e ex-praticante e professor da modalidade, deu início a vivência narrando um pouco da história da luta.

Taekwondo significa “caminho dos pés e das mãos”, é uma luta milenar com raízes coreanas que tem como princípios básicos o equilíbrio físico e mental. É uma luta que faz parte das artes marciais e que possui uma filosofia de valorização da perseverança, integridade, auto-controle, cortesia, respeito e lealdade.

O professor Jorge nos explicou que as regras da luta foram se modificando durante o passar dos anos, como as proteções do tórax e cabeça que foram se tornando regras. Na luta não é permitido  agarrar, socar no rosto, atingir abaixo da linha de cintura ou empurrar adversário e vence aquele lutador que conseguir derrubar o adversário provocando um nocaute. Se esta situação não ocorrer até o final da luta, vence quem obtiver um maior número de pontos, que são conquistados através dos golpes.

Para preservação dos lutadores, durante a prática são utilizados protetores para cabeça, antebraço, canela e genitais. Com o passar dos anos e o desenvolvimento da tecnologia, assim como o aparecimento de casos de imparcialidade nos julgamentos dos árbitros gerando muitas controvérsias, os protetores deixaram de ser utilizados apenas para finalidade de preservação física e passaram a portar sensores eletrônicos que realizam contagem de pontos, conforme o local que o lutador é atingido pelos golpes.

Vivenciamos alguns golpes primeiramente de maneira individual e depois em duplas, utilizando colchonetes para proteção.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

MOMENTO 4: Vivência Capoeira

Com o estudante de Mestrado, professor de Educação Física e praticante de capoeira, Marcos Ribeiro, juntamente com a professora Lígia, praticante de capoeira desde a sua infância, formada em Letras pela FFLCH e professora de Língua Portuguesa, vivenciamos e pudemos conhecer mais sobre a capoeira. Ela nos contou que existem dois tipos de capoeira: a angola e a regional. A angola foi trazida pelos escravos negros para o Brasil e era praticada por eles no meio das matas, sendo sua prática proibida por muitos anos. Já a regional foi adaptada pelos brasileiros e oficializada pelo mestre Bimba, possuindo movimentos mais ágeis. Porém, os dois estilos têm alguns princípios em comum. Em ambas, quem joga sempre deve começar cumprimentando o parceiro "ao pé do berimbau", agachado perto do instrumento e deve sempre trajar roupas limpas.

Praticante da capoeira regional, Ligia nos explicou que as rodas sempre têm uma canção que se chama “ladainha”, longas narrativas ritmadas com assuntos variados, que podem também ser criadas no improviso da roda. Após isso, fez a introdução aos instrumentos que são utilizados para fazer o som da roda de Capoeira. Entre eles, o atabaque, berimbau, pandeiro e cabaça. Após a explicação sobre os instrumentos, seus sons, funções e como são construídos, a professora convidou alguns alunos da nossa turma para tocar e os ensinou qual era o ritmo. Finalizou a vivência ensinando alguns golpes e movimentos e convidando a todos para compor uma roda de capoeira, onde pudemos experimentar tudo o que observamos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

MOMENTO 5: Encerramento

Através das vivências dos três tipos de lutas, pudemos ter contato com outras representações dessas práticas e acessar novas significações. Compreendemos que nenhuma luta pode ser considerada melhor ou pior que outra, mas que cada uma possui uma história, foi construída social e culturalmente por um grupo de um determinado modo e possui certos objetivos. Pensando no trabalho com essa prática na escola, entendemos que

A multiplicidade de olhares não só permitirá descobrir outras dimensões, como também revelará novas formas de as crianças verem as práticas corporais que empregam técnicas de agarre, imobilização e atingimento. (NEIRA, 2014, p.102)

 

Encerramos a aula com algumas demonstrações de Katis do Kung Fu na luta com armas como: leques, nunchaku e lanças.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

 

NEIRA, M. G. “Lutas na escola”, “Orientações Didáticas” e “Relato de Experiência”. In: Práticas corporais: brincadeiras, danças, lutas, esportes e ginásticas. São Paulo: Melhoramentos, 2014. p. 100-120.

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