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Esporte e Cultura

Aula 6 (05/05):

 

O encontro de 05 de maio foi uma aula expositiva em que o professor Marcos Neira dissertou sobre as práticas esportivas.

 

Ele iniciou com uma provocação: “O que é esporte? Como definir o esporte”? Em meio a diversas respostas, definiu-se que esporte é a prática corporal institucionalizada e, frequentemente, internacionalizada. Em outras palavras, são instituídas regras e normas que são seguidas mundialmente. Além disso, o esporte possui um terreno restrito de leis e justiça próprias. De acordo com Melani: “(...) esporte pode ser um bem ou pode ser um mal. Tudo depende do que se entende por esporte, quais são seus objetivos e, mais ainda, de que maneira é praticado”[1].

 

Em seguida, o professor nos apresentou duas práticas esportivas pouco conhecidas, com o objetivo de fomentar a problematização: o buzkashi, esporte praticado no oriente médio e que é considerado um dos mais violentos do mundo; e o calcio fiorentino, variedade medieval de esporte com bola que provavelmente foi uma das origens do atual futebol. Ambos os esportes propiciaram a sensação de estranhamento das/os presentes, por se tratarem de manifestações culturais tão diferentes e distantes dos esportes hegemônicos conhecidos hoje.

                       

                                                                                Buzkashi                              Calcio Fiorentino

Discutimos o esporte como produção social e cultural, ou, em outras palavras, produção de grupos humanos. Essa definição vem de encontro à vertente de análise que Bracht[2] chama de descontinuidade: a visão do esporte sob a perspectiva de sua natureza histórico-social. Para Melani: “(...) é necessário compreender que as manifestações esportivas não são fenômenos isolados. Os esportes estão entrelaçados com diversos fatores de uma sociedade; e são expressões dessa sociedade em uma determinada época”.[3]

 

Em seguida, o professor trouxe a noção do lúdico no esporte (lúdico, que vem do latim ludens: relacionado àquele que se encontra “iludido”). A presença da ludicidade não é restrita apenas àquela/e que pratica, mas também àquela/e que consome o esporte (o público). A noção de jogo, aqui entendida como expressão dessa ludicidade, pode ser aplicada tanto às partidas esportivas quanto às brincadeiras. Discutimos que a profissionalização do esporte, cada vez mais pungente, retira dessa prática seu caráter lúdico. Se buscam resultados, e não o aproveitamento do processo; o prazer do jogo é substituído pela mercantilização, tanto do esporte em si quanto dos jogadores e equipamentos. Além disso, a crescente burocratização e racionalização do esporte contribuiu para a perda de sua ludicidade.

 

Em seguida, discutiu-se as origens histórico-sociais do que viriam a se tornar os esportes: a Inglaterra do século XIX. Na sociedade da época, os esportes foram sendo consolidados como práticas formadoras de normas e condutas sociais, além de uma maneira de exercer a regulação e o controle dos corpos dos jovens. De acordo com Brandão e Soares: “O processo de transformação de diferentes práticas corporais em esporte é, certamente, uma das mais esmagadoras formas de massificação de gestos e de comportamentos”[4]. Tais práticas surgiram em escolas privadas, e o clima de cavalheirismo reinava. Aos poucos, o estado vai se apropriando do esporte, vislumbrando seu potencial econômico. Tais fenômenos aconteceram concomitantes à industrialização, de modo que as próprias indústrias se apropriam também das práticas esportivas como alternativa de lazer e entretenimento para os operários. O estabelecimento dos estados-nações, a democratização dos governos e a emergência do capitalismo contribuíram para que, ao longo do século XX, os esportes se popularizassem. Bracht diz que: “O esporte, como ele é ‘destilado’ das práticas corporais da aristocracia/burguesia inglesa e das classes populares, é protótipo da modernidade”[5].

 

Ao longo da história moderna, diversos autores vêm defender que o esporte, como a prática que conhecemos hoje, possui atributos muito próximos aos necessários para o funcionamento do sistema capitalista, sendo o já citado Bracht um deles. O professor sugeriu a leitura do artigo “Criança que pratica esporte respeita as regras do jogo... capitalista”, de autoria do pesquisador:(https://sitealanrocha.files.wordpress.com/2009/07/a-crianca-que-pratica-esporte.pdf). Porém, diversos outros significados diferentes foram sendo atribuídos às práticas esportivas: sagrado; guerra; excitação; lazer e trabalho; mérito; espetáculo; comércio e mercado etc. O esporte tornou-se, já há algum tempo, um nicho de mercado que gera e movimenta cifras altíssimas no mundo do comércio. Não são comercializados apenas uniformes, chuteiras, equipamentos; comercializa-se o ideal esportivo como um todo.

Os estados latino-americanos souberam se apropriar bem do fascínio gerado pelo esporte para instigar o sentimento ufanista (na época de Regimes Militares, principalmente). Destaca-se aqui o caráter marcadamente político do esporte, e como é possível de estabelecer uma identificação com determinado povo. Neira ainda trouxe a perspectiva do esporte como processo civilizador, cunhada por Norbert Elias. De acordo com o pensamento deste autor, existiria algo na ética do esporte que se assemelha muito à ética cristã (fenômeno que ele chama de “cristandade muscular”). Sob a perspectiva da ideia do fair play, as nações que mais investiram em esportes são, hoje, as mais civilizadas. Como exemplo, o professor Neira citou o fato de que o governo brasileiro, na década de 1970, institui Jogos Estudantis e Jogos de Trabalhadores, numa tentativa de desmobilizar os movimentos estudantis e operários que se opunham ao Regime Militar. Em suma, governos de diversos países se aproveitaram e ainda se aproveitam do esporte como uma prática de regulação de corpos, comportamentos e mentes.

 

Em relação a esse fascínio que o esporte nos provoca, Neira comentou que um de seus maiores atributos é a o “desconhecido” que ele nos traz: não podemos saber quem vai ganhar e quem vai perder. Talvez por este motivo, o esporte-espetáculo consegue ter um alto grau de identificação com a população de um país. Além disso, o esporte proporciona uma sensação catártica (muito mais para quem assiste do que para quem joga, diga-se de passagem).

 

Neira citou a pesquisadora Guacira Lopes Louro, que teorizou que o esporte é uma prática generificante; ela constitui estereótipos de gênero, os reforça e os legitima. Isso é muito claro e evidente em se tratando das práticas esportivas dentro da escola.

 

Uma curiosidade que surgiu na aula foi em relação ao termo “torcedores”. Antigamente, as pessoas que assistiam as partidas de esportes vestiam-se elegantemente, trajando lenços. Com o suor causado pela excitação e calor ao longo do jogo, seus lenços molhavam-se. Sendo assim, eram vistas torcendo os lenços ao final das partidas. Cunhou-se daí o termo, que é usado largamente e é exclusivo da língua portuguesa.

 

Em relação à prática do esporte, Neira explicou que, para seguir carreira como atleta, é necessário estar ligado a alguma federação – que são, invariavelmente, instituições privadas. Isso significa, por exemplo, que a chamada “seleção brasileira”, representada pela CBF, não é de fato a seleção “do Brasil”, e sim a seleção escolhida por esse órgão. A esse fenômeno, Neira atribui uma certa promiscuidade entre os setores público e privado (uma vez que, para que as federações se beneficiem do esporte, é necessária a presença do estado; seja construindo estágios e ginásios – estrutura física – quanto fornecendo a segurança e a logística para a realização dos jogos).

 

Discutimos um pouco sobre as resistências ao esporte hegemônico. O esporte surgiu como uma prática burguesa e, ainda que hoje haja uma aparente democratização, continua sendo um campo de oportunidades restritas. Hoje, porém, são mais nítidos os grupos de resistência, como os praticantes de skatismo[6], surf, paraquedismo etc. Práticas cujos adeptos se recusam a deixar institucionalizar. Mantêm-se à margem, com estilos de vida e de prática que fogem aos padrões dos esportes hegemônicos. Em relação à suposta democratização, podemos pensar que, atualmente, as camadas mais pobres estejam conseguindo acessar o esporte como prática - ainda que sejam pouquíssimos os casos de sucesso. Porém, não acessam o esporte como dirigentes: tais cargos continuam sendo da elite. O poder, no esporte, é muito centralizado. Os atletas são frequentemente alienados dos processos que envolvem sua prática, não participando de tomadas de decisões. A alienação se estende a outras instâncias, inclusive políticas. São coisificados, transformados em maquinaria. Quem tenta se engajar politicamente é, frequentemente, silenciado. O professor destacou aqui a atuação da chamada "Democracia Corinthiana", em que o time foi capaz de quebrar a situação de alienação de seus atletas e torcedores.

 

Em relação aos diversos discursos sobre o esporte, discutimos o fato de que, a todo momento e incessantemente, a prática esportiva é veiculada como positiva; significada apenas por seus aspectos positivos, exaltada. A crítica ao esporte não chega aos grandes veículos de informação que, do contrário, apenas se aproveitam do fascínio gerado pela prática para explorar ainda mais o público já alienado. De acordo com Bracht: “Assim, o mito esportivo, construído pelos ideólogos do esporte, retira dele sua marca histórica, o que permite legitimá-lo mais facilmente e camuflar seu caráter eurocêntrico, com todas as consequências socioeconômicas e políticas inerentes a esta visão”[7].

 

Concluindo, o professor colocou o que, para ele, seria o grande problema atual – principalmente para professoras/es: como resgatar o caráter lúdico do esporte e evitar que as crianças se alienem? Qual seria o papel das/os professoras/es nesse processo?

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 

BRACHT, V. Esporte, história e cultura. In: PRONI, M. W.; LUCENA, R F. Esporte: história e sociedade. Campinas: Autores Associados, 2002. p. 191-205.

 

BRANDÃO, L; SOARES, C. L. Voga esportiva e artimanhas do corpo. Movimento, Porto Alegre, v. 18, n. 03, p. 11-26, jul/set. 2012.

 

MELANI, R. O significado do esporte. Revista PUC Viva, São Paulo, v. 11, n. 38, p. 7-20, mai/ago. 2010.

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[1] MELANI, R. O significado do esporte. Revista PUC Viva, São Paulo, v. 11, n. 38, p. 7-20, mai/ago. 2010.

[2] BRACHT, V. Esporte, história e cultura. In: PRONI, M. W.; LUCENA, R F. Esporte: história e sociedade. Campinas: Autores Associados, 2002. p. 191-205.

[3] MELANI, R. Idem, p. 9.

[4] BRANDÃO, L; SOARES, C. L. Voga esportiva e artimanhas do corpo. Movimento, Porto Alegre, v. 18, n. 03, p. 11-26, jul/set. 2012.

[5] BRACHT. Idem, p. 194.

[6] O já citado artigo de BRANDÃO e SOARES traz uma perspectiva muito interessante em relação ao skatismo como resistência.

[7] BRACHT. Idem, p. 193.

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Aula 7 (12/05) – Vivências corporais – Ginásio da EEFE

 

“O que se defende é que as marcas culturais do esporte (gestos, adereços, representantes, história, regras, vestimentas, táticas etc.) sejam alvo de leitura crítica, reflexão e vivência, quando for o caso”. (NEIRA, p.141)

 

As palavras do autor representam como foi a aula de Cultura Corporal no dia 12 de maio. A aula ocorreu no Ginásio Poliesportivo da EFEE. Em um primeiro momento, todos sentaram em roda e o professor Marcos explicou que através do mapeamento realizado pela turma, analisou que todos os grupos tinham colocado uma prática esportiva em comum: o handebol. Com isso, começamos o processo de significação do tema, em que o professor questionou o que a turma sabia sobre esse esporte, tanto com um olhar cultural, como de conhecimento de regras e táticas. Algumas pessoas do grupo contribuíram com seus conhecimentos e uma aluna explicou quais são as regras básicas para se jogar este esporte.

 

 

 

A partir dessa conversa, o professor propôs uma divisão de quatro times, os que estavam com camisa curta, os que estavam de roupa escura de manga comprida, os que estavam de cinza e os coloridos. Os times ficaram com uma média de 11 alunos. Depois dessa ressignificação de escolha de times, legitimada pelo grupo, demos início à vivência do Handebol.

 

Em um primeiro momento o professor definiu 4 capitães e decidiu quais times iriam se enfrentar. Os times se reuniram por alguns instantes para definir alguns combinados e começamos os jogos.

 

Depois de algumas partidas o professor chamou todos em roda e disse que iríamos vivenciar as técnicas de defesa e ataque do handebol. Nos próximos jogos ficamos todos na barreira quando o time adversário estava com a bola e seguimos todos para o ataque para praticar a troca de bola e tentar fazer o gol.

 

Em um próximo momento, o professor disse que os times teriam que se reunir e definir algumas táticas de jogo. Além disso, para deixar a aula mais dinâmica, determinou que quando a bola saísse de uma metade da quadra para direita, o time que estaria fora, naquele espaço, trocaria automaticamente com o time que estava jogando do lado direito e vice versa. Essa foi uma estratégia que fez com que os times que estavam fora tivessem que prestar muito atenção no jogo e também, fez com que os jogos não demorassem tanto, fazendo com que o tempo da aula fosse aproveitado ao máximo.

 

Os jogos terminaram e todos sentaram novamente em roda para conversar sobre como foi a vivência. A discussão foi muito interessante, pois muitos alunos trouxeram contribuições sobre o contato, tanto positivo como negativo, que tiveram com o handebol ou outras formas de esporte, durante sua vida escolar e no cotidiano.

 

Alguns alunos, que tinham maior conhecimento do esporte, com a ajuda do professor Marcos, fizeram uma ampliação e um aprofundamento do tema, expondo alguns contextos históricos e fazendo correlações entre os esportes hegemônicos, praticados pela classe dominante, e os que estão à margem, praticados por alguns grupos que ainda resistem à institucionalização, como no caso dos skatistas.

 

 

 

 

A partir das discussões sobre o esporte, percebemos a necessidade de uma reflexão mais crítica sobre o tema na escola e sua abordagem enquanto objeto de estudo, não baseada apenas em gestualidade, técnica e rendimento, e sim, em seu caráter lúdico, mobilizando conhecimentos à luz do seu papel historicamente construído na sociedade capitalista, contribuindo para a formação de um ser crítico e autônomo.  

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

 

NEIRA, M. G. “Os esportes na escola”; “Orientações Didáticas” e Relato de Experiência. In: Práticas corporais: brincadeiras, danças, lutas, esportes e ginásticas. São Paulo: Melhoramentos, 2014. p. 139-155.

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